Tive a feliz oportunidade de ser autor de um dos capítulos do livro Histórias de Executivos dos RHs Mais Admirados, lançado em julho de 2018 pela Editora Leader.
Fiquei muito feliz com o convite e pude contar um pouco da minha trajetória pessoal e profissional, incluindo como foi o início da minha carreira, minha passagem por hospitais psiquiátricos, meu trabalho como acompanhante terapêutico de pacientes psicóticos, meu início no consultório e a forma como migrei para a área de Recursos Humanos.
É um exercício muito rico fazer esta retrospectiva e resgatara na memória momentos marcantes e importantes na minha jornada, bem como quem foram as pessoas importantes, eventos e episódios que me marcaram, desafios superados, dores e a maneira como tudo isto me ajudou a ser a pessoa e o profissional que sou hoje.
Há algumas questões que vivi e que me impactaram de uma forma muito intensa. No próprio livro menciono que na época da Natura, tive uma assistente que atendia a mim e a mais três gestores e que fazia parte do programa de Diversidade e Inclusão. Antes de contratá-la, tive a chance de entrevistá-la e nesta ocasião soube com mais detalhes do acidente que ela sofreu quando tinha 40 anos e da forma como ela perdeu uma perna por conta da conduta criminosa de um motorista. Ela me ensinou muito sobre resiliência, amor à vida e sobre a necessidade de se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Mais tarde, já na Parker, no final de 2016, um outro episódio foi de muito impacto não apenas para mim, mas também para minha equipe de gerentes de RH, todas mulheres e todas mais ou menos na mesma faixa de idade da Karina, que precisou ausentar-se por quase um ano para tratamento de um câncer de seio, felizmente descoberto há tempo de se intervir da melhor e mais eficaz forma possível.
A coragem com que ela enfrentou a doença e o desejo de comunicar a todos que estava doente e que se engajaria no tratamento com unhas e dentes foi uma outra lição muito profunda. Tenho uma crença bastante forte que não apenas as pessoas que fazem parte de nossas vidas estão ali por motivos necessários ao nosso crescimento, mas principalmente todas as experiências em especial as difíceis também tem uma razão muito nobre para fazerem parte do nosso roteiro: nossa evolução.
Delicias e dores- próprias ou das pessoas próximas vão nos formando, forjando, constituindo. Como lidamos com cada uma destas experiências e se temos ou não a capacidade de transformá-las em aprendizado é algo extremamente importante.
Apesar destes dois episódios terem sido muito marcantes, há um terceiro que aconteceu no início da minha carreira e que de alguma forma foi repetido várias outras vezes, que também menciono no livro e que foi objeto de um e mail que recebi, que me marcou. O fato aconteceu na Thomson, minha primeira empresa.
Havia sido decidido o fechamento da empresa em São Paulo e ao longo de um ano, toda a produção seria transferida para Manaus. Todos sabiam que, mais cedo ou mais tarde, perderiam seus empregos. Quase no final do ano, após centenas de desligamentos, chegou a vez de uma senhora que tinha 35 anos de empresa. Ela percebeu que eu estava abalado, com os olhos cheios de água e ela me confortou dizendo para eu não ficar assim, pois ela não havia nascido na Thomson e não morreria lá, mas que tudo que ela conquistou na vida, se pôde formar seus dois filhos, ela devia ao seu trabalho na empresa.
Ao sair da minha sala, após um abraço carinhoso e de despedida, eu vivi uma cena de novela: fechei a porta e chorei naquele dia o que eu não havia chorado durante o ano inteiro. Eu estava triste, exausto e chateado com o exercício que muitas vezes depois apelidei de brincar de Deus- que era fazer a lista de quem seria desligado. Em minhas reflexões, já cheguei a pensar que se brinca de Deus, mas só no aspecto do poder divino e não no aspecto do amor divino.
O fato é que, para o gestor, o momento de desligar um colaborador, nunca é (ou pelo menos não na grande maioria das vezes), algo fácil. Há normalmente uma dor por trás. Hoje fazemos uma lista e amanhã fatalmente estaremos numa, seja por uma necessidade de reestruturação, seja por algum outro motivo, ou porque chegou a hora de se aposentar.
Alguns dias depois da noite de autógrafos do livro recebo um e mail, de alguém que eu havia conhecido apenas na noite de autógrafos.
Escreve ele:
A parte que mais gostei do que você escreveu foi sobre a história de gestão de pessoas. Confesso que fiquei muito tocado, me emocionei ao ler seu relato daquele momento de demissão, você mostrou ali como é humano, como todos nós temos vulnerabilidades, e como você foi humilde ao reconhecer e aceitar seus sentimentos, não se escondendo atrás de máscaras.
Fiquei muito feliz com o que li e com a certeza de que para sermos íntegros, no sentido da integridade, da coerência entre quem somos e a forma com que agimos, precisamos resgatar de forma urgente a nossa essência e a nossa verdade.
Para que os ambientes de trabalho e as relações humanas possam melhorar e desta forma construirmos empresas genuinamente boas para se trabalhar e um mundo melhor, precisamos abandonar as máscaras, invocarmos nosso melhor, descobrirmos qual é o nosso Propósito e nos colocarmos a serviço dele e das pessoas com quem trabalhamos.
Ao fazermos isso, abandonamos o baile de máscaras e damos de presente a nós mesmos e às pessoas com quem trabalhamos a oportunidade de resgatar o mais que humano em nós e darmos ao exercício de nosso oficio o significado que vais fazer a jornada valer a pena!
Marcelo Madarász é diretor de Recursos Humanos na Parker Hannifin, além de atuar em hospitais psiquiátricos, como acompanhante terapêutico de pacientes psicóticos e em consultório particular. Amante das Artes em Geral: cinema, teatro, literatura e da possibilidade de utilização da Arte no Desenvolvimento de Pessoas